“Geraldo França de Lima: Um escritor em perspectiva” é lançado em Araguari

A Prefeitura de Araguari, por meio da Fundação Araguarina de Educação e Cultura – FAEC, juntamente com a Diretoria de Cultura da Pró-reitoria de Extensão e Cultura da Universidade Federal de Uberlândia (Dicult/Proex/UFU), lançaram na última quinta-feira (20), na Casa da Cultura de Araguari, o livro "Geraldo França de Lima: Um escritor em perspectiva", dos autores Betina Rodrigues da Cunha e Leonardo Francisco Soares, professores do Instituto de Letras e Linguística (Ileel/UFU).

 

O livro ‘Geraldo França de Lima: Um escritor em perspectiva’ ressalta o trabalho do autor, não conhecido pelo grande público, mas que foi consagrado pela crítica e é bastante premiado por sua carreira. Desse modo, a obra resgata a importância do literato, desvela elementos e exercícios escriturais significativos de uma cultura distanciada do eixo tradicionalmente convencional”, ressaltou Betina Rodrigues da Cunha, co-escritora.

 

Para o Reitor Valder Steffen Júnior, da Universidade Federal de Uberlândia – UFU, presente no evento de lançamento, “Geraldo França de Lima foi um romancista e valorizava o local em conexão com o regional e o universal como elementos de reconhecimento de identidades recriadas ao longo de um passado memorialístico e, naturalmente, criativo. Revelando as belezas e os costumes de nossa região, hoje é uma honra poder prestigiar o lançamento do livro, escrito pelos professores Betina e Leonardo em Araguari, em uma noite repleta de arte”.

 

Jean Laverdi, Presidente da FAEC – Fundação Araguarina de Educação e Cultura, ressaltou a diversidade cultural de Araguari e o processo de resgate da autoestima do povo araguarino. Nossa cidade é amplamente rica, seja por riquezas naturais ou pela diversidade cultural; é uma cidade onde a cultura dialoga com todas as linguagens artísticas. Mesmo num momento de crise, estamos driblando as adversidades com criatividade e valorizando nossas riquezas culturais. Em uma única noite, temos o lançamento de um grande livro, a vernissage de um artista reconhecido aqui no Brasil e na Europa, um ator de expressão consolidada e a música, através de futuros musicistas da região”, ressaltou.

 

Além do lançamento da obra e da noite de autógrafos com a presença dos autores, o evento contou com a vernissage do artista plástico araguarino Julio Monteiro, "Visitando serras azuis", uma performance em reverência a Geraldo França de Lima com o ator uberlandense Flávio Arcioli, e a apresentação da Orquestra Popular do Cerrado, com regência do professor Alexandre Teixeira, do Curso de Música/Instituto de Artes da UFU.

 

 

Geraldo França de Lima

 

Nascido em 24 de abril de 1914 e falecido no dia 22 de março de 2003, na cidade do Rio de Janeiro, um dos filhos mais ilustres do município tinha paixão pelas letras. Recebeu diversos prêmios literários e conquistou reconhecimento fora do país. Talvez tenha herdado esse dom da mãe, Dona Corina (primeira professora concursada pelo Estado de Minas Gerais a atuar na cidade de Araguari).

 

Para completar seus estudos, deixou a casa dos pais aos 15 anos rumo à Barbacena. Ainda jovem, fundou naquela cidade em 1933 o Kepi, um jornal de poesias. Conheceu Guimarães Rosa um ano depois, enquanto vendida assinaturas para seu tablóide. Se não fosse por essa amizade, talvez as obras de Geraldo França de Lima não teriam vindo a público. Algumas, nem escritas.

 

Em 1933, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde ingressou no curso de Direito e trabalhou como jornalista no Correio da Manhã e A Batalha. Cinco anos depois, advogou por um breve período em Araguari e depois foi para Belo Horizonte.A política também lhe despertava fascínio. Ainda garoto, lutou na revolução de 30. Em 1945, ajudou a fundar o Partido Social Democrático em Minas Gerais. Chegou a ser assessor de Tancredo Neves, nos anos 50, e secretário particular de JK, em 1961.

 

Antes disso, porém, Geraldo França começou a dar aulas no Colégio Pedro II e na Faculdade de Letras da UFRJ, em 1958. Nessa época, aos 44 anos, passou a escrever, mas não mostrava para ninguém. Temia críticas, principalmente de Guimarães Rosa.

 

Rosa viu o romance na biblioteca dele e, sem avisar, levou-o para ler. Para a surpresa do araguarino, elogiou seu trabalho. Sugeriu o título “Serras Azuis” e incentivou sua publicação. Assim foi feito e em 1961, o livro lhe valeu sucesso entre o público, elogios da crítica e também do Jornal New York Times dos Estados Unidos, além de premiações. Foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em novembro de 1989, onde passou a ocupar a cadeira 31.

 

Geraldo França perdeu totalmente a visão em 1992. Desde então, escrever se tornou seu passatempo favorito. Com a ajuda da esposa, Lygia Bias Fortes da Rocha França de Lima, escreveu quatro de seus 12 romances. “Se enxergasse, estaria batendo recordes, ” brincava ele, falecido em 2003.

 

 

Visitando serras azuis

 

A exposição “Visitando serras azuis”, que reverencia Geraldo França de Lima, é mais do que uma viagem pela carreira do artista araguarino Júlio Monteiro. Com praticamente dois terços da vida dedicados às artes plásticas, Monteiro encontrou no Cerrado sua musa, seu tema maior. As espécies da vegetação típica da região do Triângulo Mineiro ganharam as pinceladas dos quadros do artista, criados durante mais de quatro décadas.

 

Segundo Monteiro, o primeiro encontro com o Cerrado, tão bem registrado também através das letras de Geraldo França de Lima, aconteceu aos 14 anos, quando o artista andava pelos terrenos das fazendas de Araguari.

 

Em 1970, o araguarino se matriculou em uma escola de artes de nível técnico na cidade natal. “A partir dessa época, a paisagem cerradiana se transformou em minha primeira e minha maior inspiração, passando o tema para as telas em pintura a óleo e das aquarelas”, disse Monteiro. Já no fim da década de 70, Monteiro iniciou graduação em Educação Artística, na Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

 

Em meados da década de 80, Júlio César Monteiro foi contratado pelo Conservatório Estadual de Música e Artes Raul Belém, em Araguari, como professor de desenho e pintura.

 

As obras que compõe “Visitando serras azuis” podem ser admiradas na Casa da Cultura Abdala Mameri, que fica localizada na Rua Cel. José Ferreira Alves, 1098 - Centro, Araguari.

 

 

 

FOTOS: Alberto Morais